"Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus". Filipenses 4.6,7
Os últimos acontecimento [2] s e o turbilhão financeiro que se abateu sobre o mundo, após a queda vertiginosa das bolsas de valores do sudeste da Ásia, em Hong Kong e no Japão, vieram a demonstrar a bênção que é a estabilidade, tão rapidamente abalada. No Brasil, chegamos a quase nos acostumar com uma forma de vida mais economicamente estável, em função da nova moeda e da situação econômica [3] . É verdade que o aperto financeiro em nosso bolso nunca foi aliviado, mas passamos a planejar com mais tranqüilidade e, ingenuamente, passamos a achar que a estabilidade era permanente. Pacotes econômicos? Nunca mais!
Repentinamente, recebemos uma carga de 51 medidas, todas destinadas a um "equilíbrio fiscal" que, em bom economês governamental, significa: extrair mais dinheiro de quem já paga os seus impostos em dia, para cobrir o furo de caixa gerado por quem não administrou como devia. O resto da história, já podemos antever: desaquecimento do mercado, menos vendas, contenção de despesas nas empresas, recessão, desemprego, incerteza em nosso dia-a-dia, instabilidade. Nos sentimos espoliados em uma conquista que julgávamos alcançada.
Com freqüência as pessoas se consideram aventureiras e corajosas, mas porque será que a estabilidade é algo tão almejado e perseguido? Porque as pessoas anseiam por uma repetibilidade das circunstâncias, pela condição de poderem planejar?
Estabilidade é uma característica divina, por isso ela é uma bênção. Deus é estável. O pecado é fator de instabilidade. Deus é previsível. Satanás é enganador e astuto. A criação geme, sob o domínio do pecado. Deus instala a ordem no meio do caos. A mensagem de Deus é construtiva, no meio da turbulência. O plano de salvação é seqüencial, lógico e progressivo. Da morte espiritual, pela justificação procedente de Jesus Cristo, passamos à vida e, em santificação, aguardamos a glorificação e comunhão eterna com o Pai. A Palavra de Deus ensina estabilidade de vida, a estabilidade da família, a estabilidade da sua Igreja. Estabilidade podemos esperar de Deus, e só dele: o mais está fadado à desilusão.
Mas Deus prepara os seus servos para viverem estavelmente em um mundo instável. Jesus intercedeu não para que fôssemos tirados do mundo, mesmo com suas instabilidades e perigos, mas para que pudéssemos ser livres do mal. Na realidade, somos comissionados com a mensagem da estabilidade do evangelho, como embaixadores de um país celestial, no qual não existem pacotes, e os tesouros não são corrompidos pela inflação, especulação ou mal-versação. Serenidade e confiança nele é o remédio para os sobressaltos desta vida. A estabilidade que o mundo e os governantes nos oferecem, é passageira, é enganosa, é traiçoeira. A paz que recebemos de Jesus, difere da obtida do mundo: ela tem o efeito de serenar os nossos corações.
Como enfrentar o início de um ano que já se apresenta tão instável, mesmo antes de nascer? Com a paz de Deus em nossos corações, com a confiança de que ele reina e está em controle de tudo e de todos, com a certeza de que a vitória final é dele e de seus servos. O que pedir a Deus, para os anos à frente? Devemos estar orando para que ele possa atuar em nosso país, derramando a sua graça comum, para que a estabilidade, tão característica de sua pessoa, seja parte de nossa experiência e peregrinação, por onde ele nos guiar.
[1] Artigo original publicado no jornal Brasil Presbiteriano de dezembro de 1997.
[2] Referência à crise asiática no final de 1997, quando as bolsas de Tóquio e de vários outros países asiáticos caíram repentinamente, afetando várias moedas naqueles países, provocando o calote de muitas dívidas inter-governamentais e gerando reflexos severos na economia mundial, principalmente na do Brasil.
[3] O Real havia sido introduzido há apenas quatro anos.
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