Muitos evangélicos votaram "sim" no referendo do desarmamento. Considero esta posição equivocada, principalmente quando proclamada como procedente das Escrituras e como a única alternativa aplicável aos cristãos. Antes do dia 23 de outubro, expressei minha opinião em alguns e-mails, que cito aqui.
Só para citar um único texto (são vários, que poderíamos explorar), Lucas 22.36-37 deixa claro a validade de legítima defesa pela utilização de uma arma. Cristo dá uma exortação de preparo para a continuada jornada na vida que os discípulos haveriam de empreender após a sucessão dos fatos que ocorreriam com Jesus.
Nesse sentido ele indica que deve haver preocupação com provisões e com meios de auto-defesa. O versículo seguinte (37) expressa, de forma explícita, que tais recomendações não diziam respeito aos incidentes que haveriam de acontecer com a prisão de Jesus. Ou seja: não deveria haver resistência armada à prisão e contra os soldados, pois nEle importava que se cumprisse o que já estava predeterminado, conforme Is 53.12 e tantos outros versos que falam da morte do Messias entre malfeitores - uma necessidade à nossa redenção. Mas aos discípulos, não lhes foi tirado o direito de auto-defesa, como agora o estado autoritário e messiânica humanista quer fazer (contando com isso com o coro subserviente de muitos evangélicos).
Estes versos de Lucas ensinam:
1. Que é apropriado às pessoas se prepararem adequadamente às suas necessidades. Ou seja, por mais que saibamos que Deus é Soberano, não é correto tentarmos a Deus colocando a nós próprios desnecessariamente sob a sua providência milagrosa.
2. Que a auto-defesa é recurso legítimo tanto quanto o alimentar e o vestir, principalmente em situações e regiões onde impera o desgoverno e as autoridades não cumprem essa finalidade essencial de suas responsabilidades perante Deus. O texto não ensina a legitimidade de armar-se para atacar ou agredir - nem a indivíduos, nem a nações.
A regra é submissão ao estado. Auto-defesa armada é exceção, mas é exceção legitimada, quando o estado está ausente e não cumpre suas responsabilidades perante o doador da autoridade que recebem - Deus.
Não carrego armas e nem peixeira, mas minha compreensão é a expressa na Confissão de Fé de Westminster (Catecismo Maior), que transcrevo, abaixo (ênfases em maiúsculas):
Pergunta 134. Qual é o sexto mandamento?
R: O sexto mandamento é: "não matarás."
Pergunta 135. Quais são os deveres exigidos no sexto mandamento?
R: Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém por meio de justa defesa dela contra a violência; por paciência em suportar a mão de Deus; sossego mental, alegria de espírito e uso sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho e recreios; por pensamentos caridosos, amor, compaixão, mansidão, benignidade, bondade, comportamento e palavras pacíficos, brandos e corteses, a longanimidade e prontidão para se reconciliar, suportando pacientemente e perdoando as injúrias, dando bem por mal, CONFORTANDO E SOCORRENDO OS AFLITOS, E PROTEGENDO OS INOCENTES.
Pergunta 136. Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?
R: Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, EXCETO NO CASO justiça pública, guerra legítima, ou DEFESA NECESSÁRIA; A NEGLIGÊNCIA OU RETIRADA DOS MEIOS LÍCITOS OU NECESSÁRIOS PARA A PRESERVAÇÃO DA VIDA; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras, a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém.
Sob esse entendimento, e verificando que o programa governamental e dos humanistas inconseqüentes de desarmamento da população NÃO retirará a arma da mão do meliante (esses pouco se importam com as leis - pois são, por atividade precípua, contraventores), o desarmamento contribui EXATAMENTE CONTRA a preservação da vida e leva os demais cidadãos a ficarem incapacitados de SOCORREREM OS AFLITOS E PROTEGEREM OS INOCENTES. A aprovação do pseudo "desarmamento" levará, portanto, o governo a ir CONTRA o que a interpretação da Confissão de Fé preconiza.
Agora, se o "desarmamento" vier a ser aprovado, não terei arma em minha residência. Interpretarei como uma medida, da parte de Deus, de que devo - nessa questão, por imposição da autoridade constituída, estar única e exclusivamente confiante na proteção divina, sem meios humanos próximos.
Eu poderia ir contra o governo e esconder a minha arma, mas se eu vier a fazer isso é porque eu estou baseando a minha desobediência ao governo em uma CONJETURA de que poderei (ou meus familiares) ser atacado e que eu tenha que me defender. Eu não acredito que o crente deva viver por CONJETURAS, mas sim por princípios, e o princípio a ser obedecido será o de submissão à autoridade. Tenho consciência que existe uma ocasião em que é NECESSÁRIO obedecer a Deus, e não aos homens, mas isso se dá APENAS quando a determinação governamental vem explícita e diretamente CONTRA uma obrigação que eu tenha para com o meu Deus (como, por exemplo, deixar de proclamar o evangelho). Ter uma arma em casa não se enquadra, no meu entendimento, numa obrigação para com o meu Deus, mas em um direito e privilégio que ele pode me conceder, sob certas circunstâncias.
Continuarei achando, caso venha a aprovação, que a política governamental é equivocada, mas o apóstolo Pedro manda que obedeçamos não somente às autoridades justas, mas também às injustas. (1 Pe 2.18). Só para cristalizar um pouco mais este pensamento, se houver um plebiscito e o governo, em função dele, vier a determinar que temos que aceitar homossexuais como membros das igrejas, deveríamos desobedecer civilmente, mesmo correndo o risco de termos nossas igrejas perseguidas e fechadas - mas esse não é o caso com as armas.
Resumindo, mesmo não andando armado, vou votar contra o suposto "desarmamento" dos cidadãos de bem, uma vez que os criminosos continuarão armados. Espero que não cheguemos a implantar mais essa situação de desestabilidade e insegurança em nosso país, já tão marcado pela violência das pessoas sem lei.
Solano Portela
Recebi um artigo do Frei Betto a favor do "desarmamento" dos que obedecem a lei e faço algumas considerações, para cristãos, sobre o mesmo. Se preferirem, podem ler o artigo do Frei (que está "colado" após a minha resposta), antes dos comentários.
Solano
PAZ ENGANOSA...
Li a argumentação do Frei Betto no artigo "Diga Não às Armas e Sim à Vida". Ela é meramente sociológica e construída em cima de dados falaciosos e que não se aplicam ao caso em questão. Devemos concluir, pela argumentação dele, que se rompermos com o FMI as mortes por arma de fogo vão diminuir e a parcela dos gastos mundiais com armamentos será consideravelmente reduzida; simplesmente por votarmos "SIM". Bom, existem vários e-mails correndo a Internet que tratam especificamente dos argumentos e dados levantados por ele e que mostram a falsidade das afirmações. A indução ao erro começa no título - "Diga não às armas e sim à vida" - como se o resguardo do direito de auto-defesa fosse um "não" à vida. O título apropriado para descrever a escolha que confrontamos, seria: "Diga não aos bandidos e sim à vida".
Minha questão é sobre o entendimento bíblico, para o cristão. Na minha mente está claro que a responsabilidade primária de qualquer governo é a proteção do cidadão e possibilitar a vida tranqüila dos que vivem dentro da lei - isso está claro, entre outros trechos, de Romanos 13.1-7. O que observamos, na atualidade, é que os governos e governantes (de todo o mundo) se metem em inúmeras áreas; o povo passa a olhar para os governos redentivamente (em vez de como o braço de justiça e vingança, que deveria ser) - afastando os olhos de Deus e de suas próprias potencialidades para superar as dificuldades. A inversão de valores se agrava quando os ofensores passam a ser protegidos e olhados com mais benevolência do que os agredidos.
Em toda essa situação, o direito de defesa do cidadão - que deveria ser o cerne da ação do estado, nunca é tirado por determinações da Escrituras, como procurei mostrar em uma análise, em artigo anterior, apenas daquele texto de Lucas 22.33-37. Esse direito estava intrinsecamente entrelaçado na lei civil de Israel (que procedeu de Deus), na qual não entrei pois precisaria de qualificações, uma vez que ela não é normativa aos nossos dias (não estamos em uma teocracia), mas vale, pelo menos, para mostrar que esse direito não é incompatível com a fé e devoção que se espera do Povo de Deus.
Devem votar "não" os que são verdadeiramente pela PAZ verdadeira e não enganosa. É verdade, que nossa confiança, em última análise, vem de Deus (Sl 4.8 - Em paz vou me deitar, logo pego no sono; porque só tu, Senhor, fazes-me habitar em segurança). Também aprendemos que não devemos aceitar, pacificamente, que nos classifiquem com aqueles que deliberadamente quebram a lei e tentam enganar os outros com uma falsa "paz" (Sl 28.3: Não me arrastes juntamente com os ímpios e com os que praticam a iniqüidade, que falam de paz ao seu próximo, mas têm o mal no seu coração). As palavras do Frei Betto, apesar de cheias de paz, são enganosas e parecem se enquadrar no que diz o Salmo 35.20: "Pois não falaram de paz, antes inventam contra os quietos da terra palavras enganosas". O ideal de Deus para a cidade é: "Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios"(Sl 122.7). Um passo nessa direção seria desarmando os fora-da-lei e endurecendo combate à criminalidade. As palavras superficiais e enganosas do Frei Betto se encaixam na condenação das Escrituras contra falsos sacerdotes, os quais, "Também se ocupam em curar superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz" (Jeremias 6.14). Frei Betto cita Isaías 32.17, indicando que "só existirá paz, como filha da justiça". Corretíssimo, concordo com a afirmação dele. Só que isso é um argumento contra si próprio, pois é uma injustiça subtrair direitos dos cidadãos. Essa medida nunca poderá ser promotora da paz. Além disso, o que o texto realmente diz, é: "Também as maquinações do fraudulento são más; ele maquina invenções malignas para destruir os mansos com palavras falsas, mesmo quando o pobre fala o que é reto". Parece-me que é exatamente isso que o Frei Betto está fazendo: maquinando palavras falsas que, no cômputo final, são utilizadas contra os mansos.
A "paz" que estão querendo promover, removendo direitos dos honestos, é enganosa. Almejamos a paz de Deus, que não viola nossos direitos, mas nos é dada por Jesus, em plena consciência de nossa cidadania, da sua graça e do nossos deveres para com ele, sendo diferente dessa paz propagada pelo Frei Betto: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize" (João 14.27).
Em suma, sou pela paz e pela vida, por isso vou votar NÃO, no dia 23.
Um abraço,
Solano Portela
Diga não às armas e sim à vida
Frei Betto
Adital - Há organismos multilaterais que, de fato, funcionam como unilaterais. Aparentam muitos lados e possuem uma só face. É o caso do FMI. Nunca fez o gesto generoso de sugerir a um país devedor reduzir o seu superávit primário. Para quem não domina o economês, superávit primário é a porcentagem do PIB que o governo economiza para destinar aos credores. Dinheiro que deixa de ser aplicado no combate à fome, na saúde e na educação, e é canalizado para pagar a dívida e(x)terna. Dom João VI, ao retornar a Portugal, limpou os cofres. O governo negociou com a Inglaterra empréstimo de 3 milhões de libras. Foi o primeiro mau passo, pois o dinheiro era para pagar dívidas e compensar desequilíbrios do orçamento, e não para incrementar a produção e gerar riquezas. Entre 1824-25, o Brasil tomou lá fora o equivalente a 12 mil contos de réis. Levou quarenta anos para resgatar 5 mil contos, e gastou com juros 60 mil contos, cinco vezes o que recebera. Martim Francisco, primeiro ministro da Fazenda, considerava perniciosos os empréstimos externos.
Quando FHC terminou seu segundo mandato no governo, o superávit era de 3,75%. Entrou Lula e subiu para 4,25%. Queria acalmar o mercado, que o fitava com olhos apreensivos. Os 4,25% constam no papel. Na prática, o governo enxuga mais dinheiro do mercado do que supõe a nossa vã impressão. Em 2003, o governo teve em mãos, para novos investimentos, apenas R$ 8 bilhões. E via superávit canalizou R$ 65 billhões para amortizar os juros da dívida. A previsão para 2006 é o governo dispor de apenas R$ 12 bilhões, e entregar aos credores R$ 179 bilhões. Por muito menos Tiradentes reagiu.
Existe um outro organismo multilateral chamado OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Reúne 30 países ricos. Para cada US$ 1 destinado à cooperação, os trinta desembolsam US$ 10 para atividades militares. O dado é do Relatório do Desenvolvimento Humano, ONU/2005.
Em 2000 foram gastos em armamentos US$ 524 bilhões. Em 2003, pós-Bin Laden, US$ 642 bilhões. Aumento de 25%. E em 2003 os 30 países destinaram à cooperação com as nações mais pobres apenas US$ 69 bilhões. Ou seja, 10% do que se aplicou em armas. O caso dos EUA horroriza, como diria meu sobrinho: 1% do seu orçamento foi para a ajuda internacional, e 25% para atividades bélicas.
Toda a ajuda que, durante um ano, aqueles países dão ao combate à Aids representa apenas três dias de gastos com armas. Convém lembrar que a Aids mata cerca de 3 milhões de pessoas por ano. A fome, 5 milhões de crianças por ano. Genocídio. A própria ONU pratica o que critica. Em 2005 ela está gastando mais com a manutenção de seus capacetes azuis em zonas de conflito do que toda a ajuda que os países ricos darão à África.
No Brasil, a 23 de outubro, vamos às urnas decidir se o comércio de armas deve ou não ser proibido no país. Votarei SIM. Resposta 2. Pesquisa da Unesco, divulgada a 9 de setembro, demonstra que em 2004 o número de mortos por armas de fogo caiu 15,4% do que se previa. Foram poupadas 5.563 vidas. Graças à campanha de desarmamento do governo Lula.
Entre 2003 e 2004, comparados os números de vítimas de armas de fogo, houve queda de 8,2%. Foram poupadas 3.234 vidas. É um pequeno avanço. Em relação ao índice de mortos é quase nada. Ano passado, as balas saídas do cano de revólveres e fuzis, pistolas e metralhadoras, ceifaram 36.119 vidas no Brasil. Se não houvesse campanha de desarmamento teriam sido cerca de 42 mil óbitos.
Graças ao fato de muitos darem adeus às armas, na região Sudeste a queda de mortes por armas de fogo, em 2004, foi de 20,1%, a maior do país. Menos armas, menos mortes. Votar sim no plebiscito de 23 de outubro é dar um sim à vida.
O argumento de que os bandidos continuarão armados é uma falácia. Menos comércio de armas, menos possibilidade de obtê-las. Hoje, bandidos agem sob efeito da droga. Ao ver a vítima armada, atiram para matar. As estatísticas comprovam que uma vítima desarmada tem mais chances de sobreviver do que aquela que porta uma arma.
O país mais violento do mundo são os EUA. Mais de 2 milhões de presos. O que prova que violência não resulta da miséria, e sim da falta de cultura humanista. Quem aprende a gostar de matar bonequinhos virtuais em videogames bebe do veneno belicista. Pesquisa recente revela que, nos EUA, 1,7 milhão de crianças vivem num lar com armas. E 1/3 dos adultos possui revólveres, rifles ou espingardas em casa (www.pediatrics.org). Em 2002, os disparos fizeram 1.400 vítimas entre crianças e adolescentes, dos quais 90% se encontravam em casa quando ocorreu a fatalidade.
Bush acredita que a paz virá como resultado da imposição das armas. O profeta Isaías aponta o caminho inverso: só haverá paz como filha da justiça (32, 17). Uma civilização do amor jamais será conquista de espíritos belicistas.
Frei Betto
Minha compreensão sobre este tema é o seguinte: devemos ser PROTEGIDOS e não TUTELADOS pelo estado. O estado humanista está sempre ávido a ampliar suas atividades e a nos tutelar, em vez de cumprir suas funções básicas, encontradas na Palavra de Deus.O estado não é fruto de um mero CONTRATO SOCIAL humano, mas uma estrutura criada por Deus, como resultado de sua graça comum, para ser vingador dos honestos, contra os malfeitores, e promotor da justiça. Ele existe para GARANTIR e não para SUBTRAIR direitos.
Abs
Solano
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