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Definindo a Acomodação
Acomodação no aprendizado, é quando atingimos um ponto no qual achamos que já dominamos todas as verdades, ou seus aspectos principais, e paramos de nos empenhar no estudo da palavra. Ficamos repisando as mesmas verdades desprezando a riqueza de conhecimento que nos espera na Palavra de Deus.
O Jovem – Presa Fácil desse Pecado.
Com freqüência encontramos a ocorrência desse pecado nos jovens que foram expostos e convencidos das realidades das Doutrinas da Graça. Após devorarem alguns livros, após aprenderem a formular e a discutir os “cinco pontos”, estacionam por aí. Acham, entretanto, que já dominaram tudo o que se pode saber, dedicando-se a grandes e extensas discussões, como se mestres fossem.
O Alerta aos Seminaristas
Em 04.10.1911, o grande teólogo norte-americano, Benjamin Breckinridge Warfield, foi comissionado a apresentar uma palestra no Princeton Theological Seminary sobre o tema: “A Vida Religiosa do Estudante de Teologia”. Para surpresa de alguns, ele falou pouco, inicialmente, sobre a parte devocional da vida de cada estudante, mas colocou extrema ênfase na necessidade do estudo. Disse ele: “…antes de ser erudito o ministro deve ser devotado a Deus, mas o mais grave erro é colocar estas coisas em contradição”. Continua ele: “…existe alguma coisa fundamentalmente errada na vida do estudante de teologia que não estuda” .(11)
É interessante notar como Warfield identifica a vida cristã espiritualmente rasa. Em sua correta visão ela é evidenciada pelo desprezo ao estudo, pela acomodação no aprendizado.
Os Alertas de Provérbios
O livro de Provérbios apresenta inúmeras exortações com relação à importância da sabedoria e, conseqüentemente, à dedicação ao estudo e ao aprendizado. Dois versos parecem retratar a nossa observação, de pessoas que se esmeram nas discussões com pouca profundidade de conhecimento. O primeiro é Provérbios 18.12, que diz: “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior”. Se estivermos com grande vontade de externarmos o nosso interior, vamos parar um pouco para meditação: muitas vezes, estamos mesmo é precisando de continuado aprendizado e instrução. O segundo verso é Provérbios 19.27, onde lemos: “Filho meu, se deixas de ouvir a instrução, desviar-te-ás das palavras do conhecimento”. O escritor inspirado do provérbio, pressupõe que o conhecimento foi apreendido e existe na vida do leitor (“filho meu”), mas ele soa um alerta para que não haja acomodação no aprendizado. O ouvir a instrução é uma ação contínua que nos preservará dos desvios do conhecimento.
Com certeza, não podemos nunca deixar que este pecado encontre guarida em nossa vida e nem que venhamos a nos acomodar sem meditação e sem estudo e conhecimento das verdades de Deus.
Pedro Fala aos Calvinistas
Em sua segunda carta (2 Pedro 1.3-11) Pedro traz uma palavra de grande importância aos calvinistas. O trecho diz:
3. Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude,
4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção, das paixões que há no mundo.
5. Por isso mesmo vós, reunindo toda vossa diligência, associai com a vossa fé, a virtude; com a virtude, o conhecimento;
6. com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade;
7. com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
8. Porque, estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
9. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora.
10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.
11. Pois, desta maneira, é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Pedro enraíza no “divino poder” de Deus (v. 3) todas as questões pertinentes à nossa existência, tudo que é necessário e relacionado com o amor, bem como com o pleno conhecimento do próprio Deus. Não é que ele esteja apenas afirmando que Deus é a fonte, mas ele está ensinando que de Deus recebemos tudo, em plenitude. Com essa proposição ele reafirma a plena soberania de Deus até na aplicação do conhecimento. A seguir, Pedro nos indica que tudo isso representa o cumprimento das promessas de Deus para nós, representando, igualmente, um grande contraste com as corruções deste mundo (v. 4). Passa então a detalhar as áreas importantes da vida, que devem merecer a nossa concentração (vv. 5 a 7). Essas áreas são apresentadas num “crescendo” no qual a interligação de uma com a outra é demonstrada, cada uma sendo construída no alicerce previamente construído, sendo interdependentes (fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor). A demonstração dessas virtudes, em nossas vidas, não nos deixará ociosos, nem infrutíferos, nem com a visão obscurecida, mas nos trará ao pleno conhecimento de Cristo e não deixará que venhamos a nos esquecer do milagre da salvação – daquilo que Cristo fez para a purificação dos nossos pecados (vv. 8 a 9).
Estamos afirmando que a palavra é pertinente para os calvinistas, porque ao iniciar com o detalhamento dessas virtudes que procedem do poder de Deus e que por Sua agência são derramadas sobre nós, Pedro enfatiza: “…reunindo toda a vossa diligência” (v. 5). Isso significa que não existe lugar para acomodação no aprendizado. Mesmo que tudo isso esteja sob a abrangência da soberana vontade de Deus e intrinsecamente fazendo parte de Seus decretos, temos que procurar com diligência o conhecimento de Deus e a aplicação desse conhecimento em nossas vidas. Devemos nos esforçar e esperar que Deus, em sua divina providência, nos conceda o conhecimento do qual tanto necessitamos e as vidas santas que devem se seguir ao conhecimento da Sua pessoa e dos Seus caminhos.
Essa questão é tão importante para Pedro que ele, sob a divina inspiração do Espírito Santo, repete a admoestação, no verso 10, quando indica que devemos procurar, “com diligência cada vez maior” a confirmação da nossa vocação e eleição através da prática do conhecimento de Deus, que vem pela dedicação ao continuado aprendizado e pela conseqüente vida santa, que Ele requer de cada um de nós. Que Deus nos livre do pecado da acomodação no aprendizado de Suas verdades.
(11) Benjamin Breckinridge Warfield, “The Religious Life of Theological Students”, em Selected Short Writings of B. B. Warfield, John E. Meeter, ed. (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970) I, 411-425.
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