Resgatando a Visão Bíblica da Lei e da Graça
A dissociação entre a Lei e a Graça tem sido uma das características da igreja evangélica dos nossos dias. As frases seguintes constituem o ensinamento típico que estamos acostumados a ouvir:
Na Lei: Para não adulterar, o meio utilizado foi o apedrejamento.
Na Graça: Para não adulterar, o meio utilizado foi o amor a Cristo
Na Lei: Para contribuir, o meio utilizado foi o medo do devorador.
Na Graça: Para contribuir, o meio utilizado é o amor a Cristo.
Essas palavras parecem piedosas e cristãs, mas, na realidade, roubam os fiéis da verdadeira apreciação tanto da Lei como da Graça. Primeiro confundem as distinções bíblicas da Lei e contrapõem a Graça a aspectos já cumpridos desta, esquecendo, entretanto, aqueles que permanecem válidos. Segundo, colocam a Graça como se fosse uma aprovação tácita da parte de Deus para uma postura comportamental subjetiva e aleatória, na qual definimos o "amar a Cristo" como uma proposição indescritível, que age meramente como elemento de persuasão, contrariando a objetividade e clareza do ensinamento de Jesus sobre este tema: "Se me amardes, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14.15)!
O contraste é aprofundado a cada passo desses ensinamentos, via de regra enraizados em uma compreensão teológica dispensacionalista. Um autor contrastou a Lei e a Graça da seguinte forma:
É isto que Deus quer revelar à sua igreja. Você vive debaixo da GRAÇA e não debaixo da LEI. Porque quando se faz uso da lei estando em graça, para alcançar certo objetivo, mesmo que certo, mas se o meio utilizado estiver errado, o resultado é a separação de Cristo e o cair da graça...
Assim, o próprio poder da Graça salvadora de Cristo é diminuído, aventando-se a possibilidade de uma queda da graça, quando atenção é dada à lei.
Nada mais distante das verdades bíblicas. Nada mais contrário à intenção do nosso Soberano Criador e Redentor, que nos deu com tanta propriedade a sua lei para que conhecêssemos a sua vontade proposicional para conosco - como trilha de vida a ser caminhada debaixo das misericórdias divinas - tanto nos seus aspectos temporais do Antigo Testamento, como no aspecto permanente de sua Lei Moral. Nada mais estranho ao conceito da Graça divina - transformá-la em uma força conflitante daquilo que emana da natureza divina, em vez de compreendê-la como uma bênção triunfante que resgata pecadores por serem quebradores de uma lei que é santa, justa e boa.
É exatamente esse contexto que faz com que o livro Lei e Graça, do Dr. Mauro Meister seja tão pertinente e necessário. Ele não somente responde com acuidade às perguntas freqüentes que surgem, nesse dilema artificial traçado pelo evangelicalismo dos nossos dias, como também analisa a fundo as diferentes nuances e aspectos da representação escriturística da Lei de Deus.
Alicerçado na teologia dos reformadores e apresentando uma visão calvinista desse tema, o autor vai até a história mostrando como distinções bíblicas importantes sobre o uso da lei, auxiliam a igreja na compreensão da questão, apresentando aos fiéis uma forma válida e eficaz de pautarem suas vidas pela vontade prescritiva do nosso Deus.
Dr. Mauro Meister analisa, ainda, as reações que têm surgido no seio da igreja à compreensão da lei, apresentando os efeitos de cada um dos posicionamentos na saúde doutrinária de cada segmento. A forma como Nosso Senhor Jesus Cristo interagiu com a lei de Deus é especialmente pertinente a esse debate. Várias páginas são dedicadas a essa apreciação, de muito valor didático.
A terceira pessoa da santíssima trindade, recebe destaque especial, no final do livro. Ali, notamos o papel todo especial da lei na santificação operada pelo Espírito Santo de Deus, na vida dos redimidos.
Recomendamos com intenso entusiasmo este livro à igreja, certos de que tal estudo irá fundamentar uma vida de maior santidade e apreço pelas verdades divinas, ao mesmo tempo em que atende a necessidade corrente de obras exegeticamente sólidas, de teologia reformada, por autores nossos - que compreendem a situação eclesiástica de anorexia espiritual que atravessamos. Que esse estudo sólido produza fruto abundante não somente ao intelecto, mas, principalmente ao fervor e comunhão real que deve ser experimentado na obra de disseminação do Evangelho de Cristo.
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