A autora é jornalista e apresenta o registro de 21 depoimentos de pessoas dos mais diversos setores da sociedade procurando relatar o que diz o título: os encontros com Deus dessas pessoas. Na realidade, o sub-título expressa melhor o conteúdo do livro - 21 personalidades narram sua busca espiritual. Entre essas 21 pessoas existem algumas famosas, como Paulo Coelho, Caio Fábio e Gilberto Gil; algumas exóticas, como o índio paulista civilizado Kaká Werá e o sacerdote taoísta e acupunturista Wu Jyh-Cherng; e umas outras do meio empresarial, artístico e jornalístico.
A autora foi bem sucedida na obtenção e transcrição das entrevistas. O estilo é simples e a leitura flui fácil. Cada entrevistado foi induzido a relatar sua biografia de uma forma mais extensa, em vez de descrever uns poucos incidentes em sua vida, o que dá contexto e compreensão às experiências principais vivenciadas.
Como a autora compilou entrevistas, temos que comentar o conteúdo referindo-nos às palavras dos entrevistados. Exceção feita aos dois depoimentos das pessoas que se identificam como evangélicas, é intrigante como as palavras do índio Kaka Werá, que está envolvido na prática mística de curas, aplicando técnicas aprendidas no Candomblé, refletem algo comum presente nas outras 18 entrevistas. Ele disse: "Quando a gente se liga com a mãe terra, se liga ao mesmo tempo com todas as estrelas, com toda a criação, com o próprio espírito do Criador. E aí, você não precisa de religião alguma" (p. 148). A tônica dos depoimentos é exatamente essa: o Deus verdadeiro está ausente do encontro com deus daquelas 19 pessoas. Esses entrevistados apelam a alguém ou algo que denominam de "deus", mas não há identidade com o Deus revelado nas Sagradas Escrituras. A devoção e até a sinceridade de culto não é direcionada ao Criador Soberano. O conceito de Deus, de cada uma dessas pessoas, é estranho às objetivas proposições sobre a divindade, como as encontramos na Bíblia. No máximo se envolveram em uma "busca espiritual".
Dois rabinos estão entre os entrevistados. As palavras de um deles: Nilton Bonder, contraria a objetividade do Deus das Escrituras (Dt 6.4). Ele afirma, "a dimensão do sagrado é subjetiva... Deus, é subjetivo" (p. 16). Uma psiquiatra, Sandra Baguetti, nos informa ter sido levada a admitir a existência de Deus pelo processo de regressão Fisher-Hoffman. Esse método, supostamente, produz a limpeza de traumas infantis através de técnicas terapêuticas ocidentais e orientais, destinadas a restaurar o equilíbrio emocional e a "verdadeira espiritualidade" (p. 18). Ele aparenta ser uma das técnicas favoritas de místico-intelectuais nessa "busca espiritual", pois é mencionada por três outros entrevistados. Estranhamente, um método de regressão semelhante a esse processo de bases claramente humanistas é o que está sendo avidamente utilizado por evangélicos que estão se envolvendo nos chamados grupos G-12, dentro da sistemática de igreja em células. O climax da "busca espiritual" da psiquiatra contraria a exclusividade do encontro com Deus que se processa somente através da pessoa de Cristo (João 14.6). Ela faz a seguinte afirmação: "quando a busca de Deus é sincera, pode-se usar qualquer caminho" (p. 18).
Uma outra entrevistada é a artista plástica, Cristina Oiticica. Ela foi educada em ótimos colégios evangélicos, peregrinou por igrejas liberais, pela renovação carismática católica e diz ter encontrado Deus no caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Essa peregrinição é também muito popular, nas busca espiritual das pessoas mais agraciadas financeiramente - que podem viajar à Espanha. Ele é mencionado em outros quatro depoimentos. Contrariando as Escrituras, que nos ensinam que Deus se manifesta em Cristo (1 João 1.4), sendo ele o próprio Deus, ela diz que "Deus se manifesta através dos sinais". Temos o registro, no livro, de que essa pessoa que supostamente "encontrou a Deus", realizando uma bem sucedida caminhada espiritual, hoje em dia "reza sozinha e não freqüenta mais qualquer igreja" (p. 29).
O conhecido escritor Paulo Coelho integra a galeria das pessoas famosas entrevistadas. Ele informa que foi ateu até os 17 anos de idade. Sempre envolvido com drogas, passou a participar de sociedades secretas e místicas. Muitas dessas estavam claramente envolvidas com o culto à Satanás. Seu encontro com Deus, conforme seu depoimento, deu-se em uma ordem secreta da igreja católica, a RAM (Rigor, Amor e Misericórdia), à qual ainda pertence. Demonstrando rejeitar que Jesus Cristo é o único e exclusivo caminho, ele diz: "O caminho de Deus é um caminho individual. Cada um segue o seu caminho pessoal e ponto final" (p. 33). Rejeitando as Escrituras como única fonte de conhecimento sobre a verdadeira espiritualidade, ele diz que as práticas que indica aos seus discípulos para que eles se encontrem espiritualmente: "são baseadas na minha intuição" (p. 34). Na "busca espiritual" Paulo Coelho esteve também envolvido com o culto ao Santo Daime - a erva originária da amazônia, cujo chá, além do seu efeito alucinogênico, provoca fortes dores e mal-estar estomacal. É impressionante como a devoção à ingestão dessa planta, em cerimônias elaboradas, tem seduzido pessoas supostamente "esclarecidas". Quatro outros entrevistados citam o daime como fundamental à "busca espiritual" que empreenderam.
O rosário de idéias estranhas e equivocadas sobre a divindidade está presente também na entrevista de Anna Sharp, escritora e auto-intitulada terapeuta, amiga de Paulo Coelho e Shirley MacLaine. Ela afirma ter encontrado Deus na "inteligência cósmica", bem como no Caminho de Santiago de Compostela. Contrariando as Escrituras, onde encontramos o registro de que em Deus temos a própria fonte de nossa existência (Atos 17.28), formando ele os nossos destinos, ela afirma: "vejo-me como criadora de minha própria vida através da lei de ação e reação... Dessa forma vou desenhando a minha história" (p. 44).
Uma empresária, Lila Coutinho, evidenciando o misticismo já característico de tantas entrevistas prévias diz, igualmente, ter encontrado a Deus através do método Fischer-Hoffman. Desconsiderando o ofício de único mediador, de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 Timóteo 2.5), ela aponta o ponto culminante de seu encontro com Deus como sendo a descoberta dos ensinamentos do guru indiano Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990). Esse guru é também mencionado como fonte de conhecimento sobre a divindade para três outros entrevistados. Para essa empresária, as decisões na vida são determinadas pela utilização do I Ching - livro místico e de pensamentos chineses, escrito, supostamente, há quatro milênios, alvo de várias traduções, versões e comentários. Segundo ela, esse livro hoje lhe "serve como uma bússola" (p. 56).
O que têm em comum esses rabinos, os praticantes de cultos afro-brasileiros entrevistados, os místicos e esotéricos, os intelectuais e os empresários envolvidos com técnicas de regressão para descobrir o sentido da vida? Projetando, cada um, sua idéia subjetiva do deus que querem adorar, quebram todos, conjuntamente, o primeiro mandamento - Não terás outros deuses diante de mim!
O maior mérito do livro é providenciar um instantâneo sociológico que captura a ampla compreensão de pessoas comuns, e outras de maior destaque na nossa cultura, do que significa esse "encontro com Deus", e de seus temas correlatos, tais como: o conceito da divindade, o propósito da vida, misticismo vs. racionalismo, etc., pelo menos para a classe média. Ou seja, temos uma cápsula bem brasileira - não importada - útil ao estudo de religião comparativa, exemplificando bem o campo no qual temos de testemunhar sobre o Deus verdadeiro, proclamando as verdades de sua Palavra.
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